A MITOLOGIA ÁRABE ...


ÍDOLOS DA CAABA... 

O panteão árabe era bem pobre em termos de causos mitológicos. A origem da religião, ou religiões, da Arábia pré-islâmica está envolta em um manto de obscuridade. 

"Nós praticamente não possuímos informações sobre os mitos e narrativas que decodificariam a religião da Arábia pré-islâmica", diz Hoyland. "Muitos autores greco-romanos escreveram tratados sobre a Arábia e as coisas dos árabes, mas infelizmente eles foram perdidos, ou deles só sobraram fragmentos." 

Os dados completos disponíveis são provenientes da historiografia islâmica, posterior. Tal como os primeiros autores cristãos (Eusébio de Cesareia, Santo Agostinho, Tertuliano), os muçulmanos viram o passado pagão - romano ou árabe - sob o prisma da religião nascente. 

Reza a lenda (exposta no Livro do Gênesis, na Bíblia), que os árabes descenderiam de Ismael, o filho de Abraão com a concubina Hagar, a serva egípcia de sua esposa, Sara. 

Quando Sara deu à luz Isaac, obrigou o marido a expulsar a serva e o primogênito. Hagar e o menino erraram pelo deserto, até chegarem ao árido vale de Meca, onde se estabeleceram. 

A religião original da Arábia seria estritamente monoteísta, baseada na crença no Deus Uno, ensinada por Abraão a Ismael. Segundo a história islâmica, a Caaba - "A Casa de Deus", prédio de forma cúbica no coração de Meca - teria sido construída por Abraão e Ismael. 

Na obra O Livro dos Ídolos, do século 9, que trata do politeísmo árabe, é dito que o primeiro descendente de Ismael a adulterar a religião de Abraão foi um certo Al-Harith, guardião da Caaba. 

Ele retornou a Meca com um ídolo de pedra e pediu sua intercessão junto a Deus. Com o tempo, a presença de Deus tornou-se tênue no imaginário local, e os ídolos, que antes serviam de ponte entre os homens e Deus, usurparam a posição divina. Viraram deuses, no plural.

No século 3, segundo Al-Azraqi, autor das Crônicas da Meca Gloriosa, 400 ídolos de pedra haviam sido erigidos ao redor da Caaba, homenagem aos mais diversos deuses da Arábia e dos povos vizinhos. 

Essa é a versão dos historiadores muçulmanos, que enfatizaram, em suas narrativas, um monoteísmo mítico em Meca. Os vestígios arqueológicos, no resto da Arábia, apontam à anterioridade das religiões politeístas na região. 


ASCENSÃO DO ISLÃ... 

Graças à Caaba, Meca teve, antes do Islã, importância na vida religiosa árabe. Era uma espécie de Aparecida, que atraía romeiros à cidade. 

Os líderes de Meca davam boas-vindas a todas as divindades e religiões. A cidade funcionava como uma espécie de ONU multicultural do paganismo antigo. Cada tribo tinha o seu próprio santuário ali. 

Ao contrário da imponente estatuária romana, os ídolos árabes eram bem modestos. A estátua de Al-Lat em seu templo oficial, em Ta'if, era fruto da reforma de uma panela de pedra, utilizada por um judeu para cozinhar mingau. "Muitas vezes, os ídolos eram somente uma pedra polida", diz Ibn Al-Kalbi. 

A vida religiosa não estava restrita a Meca. Cada cidade tinha seu deus. Em Hegra, no norte, os habitantes diziam-se "filhos de Manat", que os gregos chamavam de Tyché - a Fortuna dos romanos. Em Mleiha, nos atuais Emirados Árabes, o deus popular era Kahl. 


Em Palmira, na Síria, o culto era à deusa Bel. Os templos religiosos pré-islâmicos não diferiam, em sua arquitetura simples, da casa de um árabe afluente da época, em cuja sala de estar erigia-se um pequeno altar dedicado ao deus, ou deuses, da predileção do proprietário.

Leite, vinho, cereais, carne de camelo e de ovelha eram depositados diante do altar. Junto à Caaba, em Meca, costumava-se sacrificar camelos.


"Os árabes possuíam deidades auxiliares, chamadas mundhat, que cuidavam da proteção dos vilarejos, das casas e até das pessoas individualmente", diz Hoyland. Esses entes sobrenaturais não seriam muito diferentes do que hoje se chamam "anjos". 

Na época do surgimento do Islã, no século 7, há indícios de declínio econômico na Península Arábica. O comércio de incenso, vindo do Iêmen, sofreu um baque com a concorrência marítima dos romanos, pelo Mar Vermelho, estabelecida após a missão do general Gallus (que foi na verdade uma rasteira nos mercadores árabes). 

Um segundo golpe, ainda mais duro, foi sentido com a ascensão do cristianismo, que praticamente aboliu, no Mediterrâneo, o uso religioso do produto, associado ao paganismo. Na época de Mao-mé, o sul da Arábia era uma pálida imagem do passado. Meca tinha uma economia pequena. 

O advento do Islã representou o fim do paganismo. Na história do apostolado de Maomé (por volta de 609 a 632 d.C.), os senhores políticos de Meca tentaram dissuadi-lo de sua missão religiosa. 

Em 622, em reunião na Câmara do Conselho da cidade, chefes de diversos clãs decidiram assassiná-lo. Para sacramentar a decisão, fizeram um banquete, sacrificando animais num altar a Al-'Uzza. O atentado falhou, motivando a Hégira, o êxodo de Maomé a Medina, que marca o início do calendário islâmico. 

Em 630, o exército comandado pelo Profeta conquistou Meca. Os ídolos em volta da Caaba foram queimados. Maomé enviou missões militares para demolir os principais templos da península, como o de Al-'Uzza em Nakhla. 

Lá, o general Khalid bin Walid, 
um brilhante estrategista militar,
 conhecido como a "Espada do Islã", 
não se contentou em destruir o templo. 


Segundo Waqidi, cronista das campanhas militares dos primórdios do Islã, Khalid viu surgir dos escombros uma mulher nua. Os fios da sua cabeleira, de tão longos, iam quase até o chão. 

Ela fitou o general, impávida, imóvel, majestosa. Khalid diz ter sentido um calafrio à sua visão. Era a sacerdotisa de Al-'Uzza. "Nós negamos a ti, e não à veneração!", gritou ele. A cavalo, avançou em disparada contra ela, sacou a espada e a decapitou. 

Era o fim dramático da última 
representante de Afrodite na Arábia. 
Nem os deuses duram para sempre. 


DIVINO TRIO...

Na história da Arábia pré-islâmica, três deusas estiveram no centro da devoção popular: Manat, Al-Lat e Al-'Uzza. Segundo o antigo historiador Ibn Al-Kalbi, elas seriam as divindades mais antigas da região.

 Manat representava a sábia anciã, e seria uma adaptação da deusa grega Tyché (Fortuna para os romanos). Al-Lat, figura materna, uma versão local de Atena (Minerva em Roma). E Al-'Uzza, a adolescente, um sincretismo com a deusa Afrodite (Vênus). 

Depois da Caaba, os templos de Al-`Uzza, no Vale de Nakhla (um dia de viagem de camelo ao sul de Meca), e de Al-Lat, em Ta'if, eram os mais visitados. Ta'if, cercada por muralhas, era localizada numa região verdejante e de clima ameno do Hijaz, região centro-oeste da Arábia, próxima ao Mar Vermelho. 

A cidade era conhecida como "Jardim do Hijaz", e a deusa, a "Dama de Ta'if". (Os árabes gostavam de uma alcunha; esta, aliás, uma palavra de origem árabe: Al-qunya). 

Os pastores e camponeses da Arábia faziam preces a Al-Lat para aumentar a fertilidade dos rebanhos. Manat era a deusa da morte e do destino. 

Isso pode soar funesto, mas tinha um lado positivo: quando uma mudança surpreendente acontecia na vida de um árabe - o paciente desenganado que se recuperava de uma doença grave, ou o pobre que ficava rico por um golpe de sorte -, fazia-se uma oferenda a Manat, a senhora da roda da fortuna. 

Na Nabateia, os fraudadores de escrituras de tumbas funerárias (comércio escuso que, pelos registros, devia ser bem ativo) tinham de pagar multa - mil moedas de prata - ao templo de Manat em Petra, ao serem descobertos. 

O culto árabe mais fervoroso
era o dedicado a Al-`Uzza, 
segundo testemunho de autores 
cristãos que pregaram na região.

 "Os sarracenos adoram a deusa Vênus e a associam à estrela da manhã", escreveu Santo Hilário, no século 4. ("Sarraceno", de acordo com uma etimologia, seria "aquele expulso por Sara": os árabes eram tidos como descendentes de Ismael, filho de Abraão com a serva egípcia Hagar). 

Em Meca, a poderosa tribo dos Quraish, principais oponentes de Maomé e do Islã, dizia-se "filha de Hubal e Al-'Uzza".
Mitologia árabe engloba as antigas crenças pré-islâmicas dos árabes.

Antes do Islã na Península Arábica em 622, o centro físico do islã, a Caaba de Meca, estava coberto de símbolos que representam os demônios inumeráveis, djinn, semideuses e outras criaturas sortidas que representava o ambiente profundamente politeísta pré-islâmica da antiga Arábia.

Podemos inferir a partir desta pluralidade um contexto excepcionalmente amplo em que a mitologia pode florescer.

Histórias de gênios, ghouls, lâmpadas mágicas, tapetes voadores, e os desejos contidos nos contos das Mil e Uma Noites e outras obras foram transmitidos através das gerações.

O conceito de mau-olhado é mencionado no Alcorão, em Surat al-Falaq (em que um é contada a procurar refúgio "do mal do invejoso, quando inveja"). 


A Mão de Fátima é por vezes utilizado para neutralizar o efeito da MAL OLHADO, embora seu uso é proibido no Islã, como são todos os talismãs e superstições. 

Entre os muçulmanos tradicionais, vários versículos do Alcorão como uma Nas-e al-Falaq são, por vezes recitado a bênção.


O CULTO ÀS PEDRAS...

A representação mais primitiva da divindade lunar árabe e talvez a mais universal era de um cone ou pilar de pedra. Essas pedras, algumas vezes, caídas do céu na forma de meteoritos, eram consideradas algo muito fabuloso.


A própria origem miraculosa dessas pedras aumentava o respeito e a admiração que tinham por elas. Na maioria das vezes, a pedra não era deixada em sua forma natural, mas sim trabalhada. Na Melanésia, por exemplo, uma pedra em forma de lua crescente é adorada como sendo um aspecto da lua. 


EM GERAL ELA É ENCONTRADA
AO LADO DE UMA PEDRA CIRCULAR
REPRESENTANDO A LUA CHEIA.

A cor das pedras também variam; algumas vezes são brancas (Al-Lat), outras vezes preta (Manat; Pedra Negra de Meca), correspondendo aos aspectos brilhante e obscuros da divindade lunar.




Em Pafos, Chipre, Bealeth ou Astarte era representada por um cone branco ou pirâmide. Um cone similar representava Astarte em Biblos e Ártemis em Perge, na Panfília, enquanto que uma rocha meteórica era adorada como Cibele em Pessino, na Galácia. 


Cones de arenito aparecem no santuário da Soberana-da-turquesa entre os precipícios do monte Sinai, sugerindo que a Grande Deusa Lua era adorada nessa Montanha-da-lua, na forma de um cone, antes que Moisés ali recebesse as tábuas da Lei. 

Na Caldeia, a Grande Deusa, Magna Dea, ou a Deusa da Lua, era adorada na forma de uma pedra negra sagrada, e se acredita ser a mesma pedra ainda venerada em Meca. Al-Uzza, a Deusa objeto de nosso estudo, foi colocada na Caaba, em Meca, e servida pelas antigas sacerdotisas. 

Nessa pedra negra há uma marca chamada de "impressão de Afrodite". A forma grega do nome veio a ser associada por alguma razão com essa marca, que é uma depressão oval, significando o "yoni" ou órgãos genitais femininos. É o sinal de Ártemis, a Deusa do Amor Sexual livre, e indica claramente que a pedra negra de Meca pertenceu originalmente à Grande Mãe.

A pedra foi coberta por uma mortalha de material preto chamada "a camisa de Caaba" e atualmente homens substituem as "sacerdotisas antigas". Esses homens, "Filhos da Velha Mulher", já citados anteriormente, são descendentes lineares das velhas mulheres que cumpriam os mesmos deveres em tempos antigos. 

A pedra que representa não aparece sempre exatamente da mesma forma. Algumas vezes é um mero montículo redondo lembrando o "omphalos", que é provavelmente a mais primitiva representação da Mãe Terra. 

Outras vezes é alongada, formando um cone ou pilar, e em muitos casos é trabalhada, esculpida. Goblet d'Alviella em seu "Migration of Symbols", configurou essas pedras em uma série, culminando com a estátua de Ártemis, que em sua característica atitude hierática completa a série sem afastar-se da forma geral. 

Ela sugere que a forma da estátua brotou da pedra. A pedra era a representação original da Deusa Lua que gradualmente tomou características humanas. 

O símbolo feminino freqüentemente encontrado nas pedras sagradas da Mãe Lua é um símbolo de poder generativo da mulher sagrada, e da sua atração sexual por homens, tendo uma conotação ligeiramente diferente da taça e do cálice, que são símbolos do útero e representam as qualidades maternas da mulher. Entretanto, as duas idéias não estão muito distantes e podem fundirem-se uma na outra.


SERES SOBRENATURAIS ...

ESPÍRITOS

MARID... (em árabe: مارد) Marids são freqüentemente descritos como o tipo mais poderoso de djinn, tendo poderes especialmente grande. Eles são os mais arrogantes e orgulhosos também.

Como todos os djinn, eles têm o livre arbítrio ainda poderia ser obrigada a executar tarefas. Eles também têm a capacidade de conceder desejos aos mortais, mas que geralmente requer batalha, e de acordo com algumas fontes de prisão, os rituais, ou apenas uma grande quantidade de bajulação.

IFRIT...(em árabe: عفريت) é uma classe de gênios infernais, espíritos abaixo do nível de anjos e demônios, conhecidos por sua força e astúcia. Um ifrit é uma enorme criatura alada de fogo, masculino ou feminino, que vive no subsolo e frequenta as ruínas. Ifrits vivem em uma sociedade estruturada ao longo de antigas linhas árabes tribais, completo, com reis, tribos e clãs. Eles geralmente se casam um com um outro, mas eles também podem se casar com o humano.



Apesar de as armas e as forças normais não terem poder sobre elas, são suscetíveis à magia que os seres humanos podem usar para matar ou capturar e escravizá-los. Tal como acontece com os gênios, um ifrit pode ser um crente ou descrente, bem ou mal, mas ele é mais freqüentemente descrito como um ser perverso e cruel.

JINN... (em árabe: جن) é uma criatura sobrenatural que tem livre arbítrio, eles podem ser bons ou maus. Em alguns casos, os gênios do mal são vistos como seres humanos extraviados.

MONSTROS...




NASNAS... (em árabe: نسناس) é "meia um ser humano, tendo uma meia cabeça, metade de um corpo, um braço, uma perna, com a qual o lúpulo com muita agilidade". Acreditava-se ser descendentes de um demônio chamado um shikk e um ser humano.

GHOUL... (em árabe: غول) é um demônio metamorfo habitante do deserto que pode assumir a aparência de um animal, especialmente uma hiena. Ele atrai viajantes incautos para o deserto para matá-los e devorá-los.


A criatura também tem por presa crianças pequenas, rouba sepulturas, bebe sangue, e come os mortos tomando a forma de um que já comeu. Por causa do último hábito, o espírito da palavra é por vezes utilizado para se referir a um ser humano comum, como um ladrão de túmulos, ou a qualquer um que se delicia com a macabra.



BAHAMUT... (em árabe: بهموت ) é um peixe grande que reside em um mar imenso, às vezes descrito como tendo uma cabeça semelhante a de um hipopótamo ou elefante.



Sobre seu lombo suporta um touro gigantesco nomeado Kujala, que se diz ter quatro mil olhos, quatro mil bocas, quatro mil narizes, quatro mil línguas, quatro mil ouvidos, quatro mil patas; uma grande quantidade de apêndices das quais há uma distância de quinhentos anos de viagem entre cada uma delas. 

Kujata suporta sobre seu lombo um rubi, que por sua vez repousa um anjo que, por sua vez, suporta os Sete Infernos, logo em seguida a Terra e após os Sete Céus.


DHU'SHARA, O LEÃO ALADO...
Também chamado de Dusares, foi cultuado na Arábia e na Nabateia (atual Síria). Era o "Senhor de Petra", uma grande cidade de estilo romano, com ágora, banhos públicos e avenidas em colunata.


Era identificado com Júpiter. Mas, ao que se saiba, não lançava raios. Seu poder mágico era o de se transformar em leão alado. Dhu'Shara era casado com Al-`Uzza (Vênus), virgem adolescente na mitologia árabe.


GHILA, A MALIGNA...

A criatura teria surgido por causa de uma maldição de Dhu'Shara. Certa vez, um grupo de demônios femininos foi à mansão celeste para bisbilhotar. Como punição, foram arremessadas para a Terra. Algumas caíram nos rios, e viraram a fêmea do crocodilo. Outras, cuja parada foi o deserto, viraram ghilas.

SERPENTES ALADAS.... 

A melhor descrição sobre estas criaturinhas peçonhentas voadoras foi de Heródoto, que ficou conhecendo sobre elas em suas andanças pela Arábia, no século V a.C. Estes ofídios com asas gostavam de fazer voos migratórios sazonais ao Egito. Mas lá eram repelidos pela íbis, ave que lembra a cegonha.


AS MIL E UMA NOITES 
& 
A MITOLOGIA ÁRABE


Ó, minha irmã, recite-nos uma história nova,
deliciosa e deleitável, com a qual podemos
passar as horas de vigília
de nossa última noite;


Por todo o mundo árabe há uma forte tradição de contamento de histórias, com contos folclóricos passados oralmente por muitas gerações. 

No entanto, a partir do século VIII, com a ascensão dos centros urbanos em florescimento e uma cultura árabe sofisticada que prosperava sob a orientação do Islã, passou-se a fazer uma distinção cada vez maior entre a al-fus’ha (a linguagem refinada ensinada em centros educacionais) e a al-ammiyyah (a linguagem das pessoas comuns). 

A literatura pré-islâmica escrita em vernáculo — incluindo contos folclóricos tradicionais — passou a ser desprezada pela elite educada, e autores de literatura árabe se afastaram dos trabalhos de prosa criativa para se concentrar na poesia e na não ficção.

Apesar da ênfase dada à “arte sofisticada” da poesia, havia um apetite público cada vez maior por uma boa história.

 E embora não fosse vista com bons olhos pelos acadêmicos árabes a coleção de contos que apareceu sob vários títulos ao longo dos séculos seguintes, mas que hoje é conhecida como As Mil e Uma Noites ou Noites Árabes.


CONTEXTO HISTÓRICO ... 

No início do século VII , surgiu às margens dos grandes impérios, o Bizantino e a Sassânida, um movimento religioso que dominou a metade ocidental do mundo. 

Em Meca, cidade da Arábia Ocidental , Maomé começou a convocar homens e mulheres à reforma e à submissão à vontade de Deus, expressa no que ele e seus seguidores aceitavam com o mensagens divinas a ele reveladas e mais tarde incorporadas num livro, o Corão. 

Em nome da nova religião — o Islã — , exércitos recrutados entre os habitantes da Arábia conquistaram os países vizinhos e fundaram um novo Império, o Califado, que incluiu grande parte do território do Império Bizantino e todo o Sassânida, e estendeu-se da Ásia Central até a Espanha. 

O centro de poder passou da Arábia para Damasco, na Síria, sob os califas omíadas, e depois para Bagdá, no Iraque, sob os abácidas.

No século X , o Califado desmoronou , e surgiram califados rivais no Egito e na Espanha, mas a unidade social e cultural que se desenvolvera em seu interior continuou .

 Grande parte da população tornara-se muçulmana (ou seja, seguidores da religião do Islã), em bora continuasse havendo comunidades judaicas e cristãs; a língua árabe difundira-se e tornara-se o veículo de uma cultura que incorporava elementos das tradições dos povos absorvidos no mundo muçulmano, e manifestava-se na literatura e em sistemas de lei , tecnologia e espiritualidade. 

Dentro dos diferentes ambientes físicos, as sociedades muçulmanas desenvolveram instituições e formas distintas; as ligações estabelecidas entre países da bacia do Mediterrâneo e do oceano Índico criaram um sistema de comércio único, trazendo mudanças na agricultura e nos ofícios, proporcionando a base para o surgimento de grandes cidades, com uma civilização urbana expressa em edificações de um característico estilo islâmico.


CONTO DENTRE O CONTO...

A estrutura de As mil e uma noites leva o formato de moldura narrativa, na qual uma história contém todas as outras. 

A “moldura” é a história da princesa Sherazade, ameaçada de execução pelo próprio marido, o príncipe Shahryar. 

Depois de sua esposa anterior ter cometido adultério, o príncipe acredita que todas as mulheres são traiçoeiras e assim, prometeu se casar com uma nova noiva todos os dias, “tirar sua virgindade à noite e matá-la pela manhã para garantir a sua honra”. 

A princesa evita esse destino ao não contar o final da história que estava narrando em sua noite de núpcias, fazendo com que Shahyar adie a sua execução. Depois de 1.001 noites como essa, ele confessa que ela acabou por transformar sua alma e a perdoa.

E a aurora alcançou Sahrazad, que parou de falar. Dinarzad lhe disse: “Como é agradável e insólita a sua história, maninha”, e ela respondeu: “Isso não é nada perto do que irei contar-lhes na próxima noite, se acaso eu viver e for poupada”. Na noite seguinte ela disse:


Os contos narrados por Sherazade misturam histórias fantásticas que acontecem em locais lendários com outras narrativas que envolvem figuras históricas — como Haroun al Rashid (c. 766–809), soberano do califado abássida durante a era de ouro islâmica. 

A natureza diversa dos contos é responsável pela grande variedade de gêneros encontrada na coleção, que vão de aventura, romance, e contos de fadas ao terror e até mesmo ficção cientifica.

Então a jovem filha do rei pegou uma faca de ferro com um nome gravado em hebraico, traçou um círculo perfeito no centro do palácio, escrevendo no interior desse círculo um nome em caligrafia Küfi e outras palavras talismânicas; em seguida, fez invocações e esconjuros. 

Logo vimos o mundo ser coberto de sombras e atmosfera tingir-se de negro, e isso diante dos nossos olhos, com tal intensidade que chegamos a cogitar que o mundo se fecharia sobre nós. Estávamos nessa situação quando vislumbramos o gênio, já pousado no solo em forma de Leão, tão grande quanto um boi, e nos enchemos de medo. A jovem lhe disse: “Fora daqui, seu cachorro!”. 

O gênio respondeu: “Você atraiçoou a mim e ao juramento!” Não tínhamos combinado que um nunca desafiaria o outro, sua traidora?”. Ela lhe disse: “E por acaso eu juraria alguma coisa para você, seu maldito?”. 

O gênio respondeu: “Então tome o que eu lhe trouxe!”, e, arreganhando as mandíbulas, correu em direção à jovem, mas ela rapidamente arrancou um fio de cabelo, balançou-o na mão, balbuciou algo entredentes, e o fio se transformou numa espada afiada com qual ela golpeão o leão, cortando-o em duas partes. 

As duas partes saíram voando, mas restou a cabeça, que se transformou em escorpião. A Jovem por sua vez adotou a forma de uma enorme serpente, e por algum tempo travou violenta luta com o escorpião, mas logo o escorpião se transformou em abutre e voou para fora do palácio; então a serpente virou águia e voou no encalço do abutre, desaparecendo por algum tempo. 

Mas logo o chão se fendeu, dele saindo um gato malhado que gritou, roncou e rosnou; atrás do gato saiu um lobo preto; lutaram no palácio por algum tempo, e então o lobo derrotou o gato; este gritou e se transformou em larva, que rastejou e entrou numa romã jogada ao lado da fonte; a romã inchou até ficar do tamanho de uma melancia listrada, ao passo que o lobo se transformava em galo branco como a neve. 

A romã saiu voando e caiu no mármore da parte mais elevada do saguão, espatifou-se e seu grãos se espalharam todos; o galo avançou sobre eles e começou a comer os grãos, até que não restou senão um único grão escondido ao lado da fonte; o galo se pôs a cacarejar, gritar e bater asas, fazendo-nos sinais com o bico que queriam dizer “ainda resta algum grão?”, e, como não entendêssemos o que dizia, ele deu berro tão estrondoso que imaginamos que o palácio desabaria sobre nós. De repente o galo deu uma olhada e, vendo o grão ao lado da fonte, correu para ele a fim de engoli-lo.

E a aurora alcançou Sahrazad, que parou de falar. Dinarzad lhe disse: “Como é agradável e espantosa a sua história maninha”, e ela respondeu: “Isso não é nada perto do que irei contar-lhes na próxima noite, se acaso eu viver e o rei me preservar”.




 
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